terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

See you in July!

Minha irmã foi passar seis meses em Portugal. Entendam bem, o máximo que já ficamos separadas foram dois meses quando fui visitar uma grande amiga desde o tempo de escola que mora atualmente nos EUA.

Eu e minha irmã sempre dormimos no mesmo quarto. Nossas camas são separadas uma da outra pela distância de um braço. Atualmente estudamos na mesma universidade, separadas por apenas um andar. Não passamos uma manhã sem se falar, e apesar de passarmos a maior parte do dia juntas, às vezes vamos dormir de madrugada porque não conseguimos parar de conversar.

Dividimos não apenas o mesmo quarto, mas o mesmo gosto musical e cinematográfico. O gosto por livros difere um pouco, mas nada que cause problemas. E dividimos a mesma fé, somos mais do que irmãs de sangue.

Duvido que alguém tenha um relacionamento melhor do que nós temos. Pode ser que dois irmãos tenham um relacionamento igual, mas melhor não.

Estou muito, muito feliz pela minha irmãzinha. Sei que essa viagem foi um presente de Deus, um sonho que se realiza. Mas sinto muita falta dela.

Acordar não é a mesma coisa. Nem sentar ao computador, ir ao cinema. O celular não tem mensagem, não tenho para quem fazer minhas palhaçadas durante o dia. Ela só viajou ontem, mas sinto sua falta a cada minuto.

Te amo, sis, see you in July.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Reconhecimento

Os anos lhe eram acrescentados, não era mais um menininha, apesar de não aparentar a idade que tinha.

E se eu nuca encontrar alguém que me ame? E se eu nunca me casar?

Era, enfim, uma pergunta lícita. A mesma pergunta feita por Jane Austen há mais de 200 anos. A mesma pergunta feita por Virgina Woolf. A mesma pergunta feita por mulheres menos e mais geniais do que ela todos os dias. Será que os homens também se faziam essa pergunta? Provavelmente não.

...

Era hoje mais interessante do que há dez anos. As espinhas já tinham ido embora, assim como a dúvida sobre o que fazer da vida. A carreira já começava a dar frutos. Só a vida amorosa que parecia andar na contra-mão. Na opinião dele, pelo menos, porque para os amigos, casados em sua maioria, não havia ninguém no grupo em situação melhor. A mulher que quisesse, quando quisesse, ele parecia conseguir. E ele se enganava, dizendo que estava tudo bem quando, na verdade, ainda não tinha conseguido superar o fim desastroso do último e longo relacionamento que teve.

...

Então se encontraram, dois mundos totalmente diferentes. Ela, apesar de se perguntar sempre se algum dia encontraria alguém que a pudesse amar (na verdade alguém que ela pudesse amar, era tão exigente) sabia esconder bem esse fantasma debaixo do tapete e aparecer linda e bem resolvida onde quer que fosse. Ele, apesar de ter alcançado o sucesso desejado e ser cobiçado por todas as mulheres do local, mal conseguia disfarçar a insatisfação que sentia, mesmo que não soubesse.

Foi em um encontro de ex-alunos da faculdade. Há anos que não se viam, se é que já haviam se visto alguma vez. Ele, o aluno “turista”, sempre com uma matéria atrasada por causa de suas crises existenciais. Ela, a aluna modelo, se formou e colocou o diploma dentro da gaveta. Os amigos nunca tinham sido os mesmos. Estiveram na mesma sala durante anos, mas nunca se enxergaram. Até que se reconheceram.

Ela viu nele a pessoa que seria se tivesse seguido a carreira, cheia de sucesso, mas com uma peça faltando. Ele viu nela a pessoa que ninguém mais via, ele enxergava o fantasma debaixo do tapete.

Foi atração à centésima vista. Mas ele estava acompanhado, e ela rodeada de amigos e amigas “das antigas”.

E passaram a noite toda se olhando, e desejando conversar sobre a descoberta que fizeram um sobre o outro.

domingo, 4 de novembro de 2007

Estranhos íntimos.

Fotos rasgadas. Discos. Livros. Filmes. Os meus, os seus, não mais o nosso. O apartamento vazio. A vida vazia. A cabeça cheia. Nada mais de toalha molhada em cima da cama. De aturar TPM. De copo manchando a mesa de centro. Nada mais de refeições na cama. De jornal de domingo. De recado no espelho. Cada um para o seu lado. Para lados opostos. Os sonhos desfeitos. Os planos frustrados. Não teremos Paris. Nem Londres. Nem Bogotá. Nada de dança na chuva. De buscar a onda perfeita. De tomar café na Tiffany. Somos estranhos íntimos. Ou íntimos desconhecidos. Somos você e eu. Nós, nunca mais.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Segundo sol

Quando o segundo sol chegar
Para realinhar as órbitas dos planetas
Derrubando com assombro exemplar
O que os astrônomos diriam se tratar de um outro cometa

Não digo que não me surpreendi
Antes que eu visse, você disse e eu não pude acreditar
Mas você pode ter certeza de que seu telefone irá tocar
Em sua nova casa que abriga agora a trilha incluída nessa minha conversão

Eu só queria te contar que eu fui lá fora
E vi dois sóis num dia e a vida que ardia
Sem explicação

(Nando Reis)

Tem músicas que são praticamente profética...

domingo, 30 de setembro de 2007

O livro usado.

Todo mundo gosta de um livro novo. Ser o primeiro a lê-lo, a tocar em suas folhas. Mas eu tenho um carinho especial por livros usados.

Livro usado tem história. Alguém já o amou ou o odiou. Ele já fez alguém chorar. Um livro usado pode já ter feito uma viagem, ter andado de metrô. Um livro usado tem marcas.

O livro usado está próximo de mim porque já viveu. Não quero dizer que o livro usado é melhor que o livro novo. Eles são diferentes. O livro novo precisa de cuidados especiais, como uma criança; talvez, ele não receba bem críticas porque não está acostumado com elas. O livro novo pode levar uma lágrima ou uma risada demais em conta. O livro usado não. Como se conhece bem, sabe de seu próprio charme e seu humor, e sabe que nossas lágrimas podem durar o tempo de uma virada de página.

O livro novo ama de uma maneira arrebatadora e pode despertar ciúmes; o livro usado ama de uma maneira mais madura, torcendo para que esta seja a última e duradoura vez, mas está preparado caso ocorra uma mudança.

Mas, o que mais me fascina em um livro usado é que ele nunca esquece quem é. Pode ter sido usado como peso de papel, pode ter sido esquecido durante anos em alguma estante empoeirada; apesar disso, ele nunca perde sua essência, sus identidade. Seja como for, aconteça o que acontecer, ele continua sendo um livro.

(post originalmente publicado em um outro blog meu)

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Café e poesia.

Quem me conhece sabe como sempre me senti em relação a poesia. Não gosto, foi o que eu sempre disse. Ainda bem que as coisas mudam.

Hoje vejo poesia assim como o café da alma. Rápida, forte e aquecedora. Mas que deixa um gostinho de quero mais na boca.

Ontem li um poema lindo do Olavo Bilac. Aqui está:

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada
[eu tinha...

E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.

Hoje, segues de novo... Na partida
Nem pranto teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho
[extremo.
(Nell Mezzo del Camin)

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Aos 30.

Não fizera nada demais na vida. Não escrevera um livro, não plantara uma árvore, não tivera um filho. Para dizer a verdade, não podia sequer dizer que tinha realmente amado alguém em toda sua vida. Ainda assim, o tempo passava. Porque o tempo não espera por ninguém.

Conforme seu aniversário de 30 anos aproximava-se, parecia desenvolver uma obsessão pelo tempo; queria ter a possibilidade de segurá-lo, esticá-lo, dominá-lo. Vontade de parar o tempo para dormir um pouco mais, para fazer perdurar aquele momento sublime, para fazer as coisas que não fez. Mas o tempo, esse pequeno indomável, não se deixava subjugar aos desejos da moça. Quanto mais tentava agarrá-lo, mais ele se tornava escorregadio, quanto mais queria esticá-lo, mais ele parecia encurtar-se. Descobriu que além de não esperar por ninguém, o tempo adorava fazer travessuras.

Decidiu, então, não mais se preocupar com o tempo, não mais pensar em mudá-lo, era da natureza do tempo passar. Decidiu satisfazer-se com o que dispunha; aproveitar cada 24 horas e não esperar que o dia durasse mais. Decidiu viver mais 30 anos, mais 60, quem sabe? Decidiu ser feliz, porque se a natureza do tempo é passar, a dela é essa: ser feliz!