domingo, 30 de setembro de 2007

O livro usado.

Todo mundo gosta de um livro novo. Ser o primeiro a lê-lo, a tocar em suas folhas. Mas eu tenho um carinho especial por livros usados.

Livro usado tem história. Alguém já o amou ou o odiou. Ele já fez alguém chorar. Um livro usado pode já ter feito uma viagem, ter andado de metrô. Um livro usado tem marcas.

O livro usado está próximo de mim porque já viveu. Não quero dizer que o livro usado é melhor que o livro novo. Eles são diferentes. O livro novo precisa de cuidados especiais, como uma criança; talvez, ele não receba bem críticas porque não está acostumado com elas. O livro novo pode levar uma lágrima ou uma risada demais em conta. O livro usado não. Como se conhece bem, sabe de seu próprio charme e seu humor, e sabe que nossas lágrimas podem durar o tempo de uma virada de página.

O livro novo ama de uma maneira arrebatadora e pode despertar ciúmes; o livro usado ama de uma maneira mais madura, torcendo para que esta seja a última e duradoura vez, mas está preparado caso ocorra uma mudança.

Mas, o que mais me fascina em um livro usado é que ele nunca esquece quem é. Pode ter sido usado como peso de papel, pode ter sido esquecido durante anos em alguma estante empoeirada; apesar disso, ele nunca perde sua essência, sus identidade. Seja como for, aconteça o que acontecer, ele continua sendo um livro.

(post originalmente publicado em um outro blog meu)

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Café e poesia.

Quem me conhece sabe como sempre me senti em relação a poesia. Não gosto, foi o que eu sempre disse. Ainda bem que as coisas mudam.

Hoje vejo poesia assim como o café da alma. Rápida, forte e aquecedora. Mas que deixa um gostinho de quero mais na boca.

Ontem li um poema lindo do Olavo Bilac. Aqui está:

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada
[eu tinha...

E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.

Hoje, segues de novo... Na partida
Nem pranto teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho
[extremo.
(Nell Mezzo del Camin)

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Aos 30.

Não fizera nada demais na vida. Não escrevera um livro, não plantara uma árvore, não tivera um filho. Para dizer a verdade, não podia sequer dizer que tinha realmente amado alguém em toda sua vida. Ainda assim, o tempo passava. Porque o tempo não espera por ninguém.

Conforme seu aniversário de 30 anos aproximava-se, parecia desenvolver uma obsessão pelo tempo; queria ter a possibilidade de segurá-lo, esticá-lo, dominá-lo. Vontade de parar o tempo para dormir um pouco mais, para fazer perdurar aquele momento sublime, para fazer as coisas que não fez. Mas o tempo, esse pequeno indomável, não se deixava subjugar aos desejos da moça. Quanto mais tentava agarrá-lo, mais ele se tornava escorregadio, quanto mais queria esticá-lo, mais ele parecia encurtar-se. Descobriu que além de não esperar por ninguém, o tempo adorava fazer travessuras.

Decidiu, então, não mais se preocupar com o tempo, não mais pensar em mudá-lo, era da natureza do tempo passar. Decidiu satisfazer-se com o que dispunha; aproveitar cada 24 horas e não esperar que o dia durasse mais. Decidiu viver mais 30 anos, mais 60, quem sabe? Decidiu ser feliz, porque se a natureza do tempo é passar, a dela é essa: ser feliz!